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    Então podemos constatar que tudo o que vemos depende das condições de como essas coisas estão sendo apresentadas pra nós pelo mundo físico e não pelo que elas são. 

 

    Parte da psicologia analítica de Carl Jung fala da consciência das sombras, onde se compreende como sombra tudo aquilo que fica no inconsciente, desconhecido, reprimido, negado, no aspecto pessoal, social, científico, tecnológico e cultural. “Confrontar uma pessoa

com a sua sombra é mostrar a ela sua própria luz.” Para Jung tudo

tem sombra, mesmo que não receba luz. Compreender a dinâmica

das sombras nos ajuda a compreender que o conhecimento

se baseia no erro, pois as certezas surgem das dúvidas.

“…a sombra exerce também um outro

papel, possui um aspecto positivo,

uma vez que é responsável pela

espontaneidade, pela criatividade,

pelo insight e pela emoção profunda,

características necessárias ao pleno

desenvolvimento humano.”

 

    A luz é limitada, a sombra não.

E ela não pode ser eliminada. Como

descrito sobre as sombras, aqui

a obra também precisa ser conhecida

e refletida atravésda trajetória de

vida e da visão do outro. Assim,

espelhando o conceito Junguiano nos

objetos apresentados, mesmo

naqueles que não possuem luz,

chegaremos nas sombras e os seus

reflexos, ou seja o pensamento

sobre elas e o que as causa. 

 

    Na verdade, é isso o que realmente

nos interessa, pois só se pode obter

um resultado satisfatório do que é requerido pelo objeto quando

ele é compreendido como portador de significado e quando

o receptor da mensagem capta o que é dito. Não importa se

a coisa é plástico, madeira, acrílico ou outro material, no objeto

há mudança de sentido da coisa. Tudo na vida é assim.

O importante é como você vê o mundo e não como ele é.

          Há sombras em cada objeto e em cada um de nós.  

 

          O ser humano possui um campo de visão inserido em um espectro luminoso. Logo além dele há raios ultravioletas de um lado e infravermelhos de outro. Estes, invisíveis pra nós mas não para as abelhas. Nossos olhos demoram para se acomodar à luminosidade do espaço ao redor devido aos ajustes dos sensores de luminosidade do fundo das nossas retinas, os bastonetes. Neles são registrados o claro e o escuro. Os sensores que definem as cores são os cones, mas se não houver luz bastante eles são minimamente acionados. Num quarto escuro, com luminosidade suficiente para sabermos onde estamos, tudo ao redor vai parecer estar em preto e branco.

 

          Sem luz, nada vemos. Com muita

luz, também não. Diante de um farol

ficamos cegos. Para enxergarmos algo

bem se faz necessária a presença de

uma fonte de luz equalizada aos nossos

sensores. Contudo, não nos damos conta

de que se não houver um objeto que

esteja dentro do campo dessa luz, que

a receba e a reflita, também não vemos

nada. No espaço sideral, a luz de uma

estrela só é notada quando um corpo

celeste está impedindo a continuidade

desses raios. Caso contrário, para um

cosmonauta por exemplo, tudo seria

escuridão. Apesar da presença

constante da luz.

 

          Para a física, tudo tem sombra,

desde que receba luz. Pelo menos

a sombra própria, que é a sombra da

parte do objeto fora dos raios de luz.

Ainda há outro tipo de sombra,

a sombra projetada. Só que para esta, necessitamos de um segundo

objeto. como uma parede. E quanto mais forte a luz, mais escura

e definida é a sombra.

 

          Sabemos que cor é luz porque cor é a característica de um objeto em refletir determinada parte do espectro luminoso. Entretanto, essa mesma cor pode ser notada de diversas maneiras de acordo com o olhar de cada um e da quantidade de luz que estiver sendo refletida. Isso é o que determina o tom da luz, que pode ser escuro, quase preto com pouca luminosidade ou tão claro que tudo fica quase branco, quando chamamos de luz estourada

Robson Macedo

Rio de Janeiro, março de 2022 

          Nunca a globalização gerou presenças físícas tão

imóveis e presenças virtuais tão compartilhadas.

​

          E o bonequinho solto no ar? Talvez

seja um suicida que, se se deixar

intimidar pela atual complexidade

levará toda uma multidão de ovelhas

a se esborracharem lá embaixo.

​

Mas ele também pode representar

o espírito humano "livre, leve e solto"

(como se dizia enquanto prevíamos

a "Era de Aquarius")​ que, se souber

aproveitar as oportunidades geradas

 

por nosso drama atual, nos apontará

 um futuro lúcido, ecológico e justo.

​

Obrigado por mais esta inspiradora contribuição

para a Galeria Transparente, Robson Macedo.

O VIRTUAL ENTRA EM CAMPO

​

          Uma obra sobre os dilemas da mobilidade

num mundo imobilizado pelo Coronavírus? 

​

          Quanto mais nossa materialidade

se configura como um risco à saúde

pública, mais "a vida" se desloca para

o mundo virtual. 

​

          No real, nosso corpo se retrai,

as fronteiras dos países se fecham,

o rosto some atrás da máscara;

no virtual, só precisamos das pontas

de dois dedos para mergulhar no

Mapa Mundi.

 

          Imensos prédios de escritórios

totalmente vazios, aviões que decolam

apenas para aliviar a pressão dos pneus,

as praias desertas de Mallorca em pleno verão europeu. 

​

          Sai de cena um planeta e entra em cena outro, digitalizado.

Os mapas do Google não eram apenas um registro do mundo, eram um substituto sentado no banco de reservas esperando para entrar

em campo.

Frederico Dalton de Moraes

Rio de Janeiro, agosto de 2020 

10 CONTEMPORÂNEO

 

          Os objetos de Robson Macedo, espertam de 

imediato, curiosidade e encantamento. Pequenas

engenhocas, elas são ao mesmo tempo sofisticadas

e simples, aproximando arte popular e tecnologia

contemporânea. Essas pequenas máquinas do

artista brincam com o nosso olhar e provocam

o pensamento; vibram pelo intenso cromatismo

e nos fazem refletir sobre as instigantes relações

entre os objetos inanimados e a vida, nesse mundo

onde fronteiras e limites são constantemente

questionados. 

 

          O ineditismo dos objetos não recusa 

a tradição. Eles se comunicam com a Op arte

internacional e com os objetos cinéticos de

Palatnik, os bichos de Lygia Clark e os farfalhantes

de Carvão. Conforme escrevi anteriormente:

Marcus de Lontra Costa

São Paulo, junho de 2018 

          "Ao atuar como caleidoscópio das imagens

definidoras do concretismo e fragmentando-as

através do espelhamento e da velocidade

intrínseca do suporte virtual, Robson produz uma

instigante relação entre os mistérios da

sensibilidade e da razão entendendo-as como

uma dualidade essencial nos desafios propostos

pela arte e pela ciência. Assim, o objeto revela

a sua forma através da ótica do espectador.

Ele se transforma a cada momento, numa

sensível dialética entre as coisas que estão

e as coisas que são.”.

Assim origina-se a nova série de trabalhos de Robson Macedo.

A partir do "erro" inicial o artista constrói artefatos que atuam

na margem entre o objeto pictórico e o objeto tridimensional, sendo construído através de técnicas mistas de pintura, colagens de impressos, tecidos e espelhos sobre um suporte de madeira confeccio-

nado de forma a enfatizar um tilt na estrutura da história da pintura.

 

A visualidade contemporânea se faz presente numa espécie de ambiguidade da cor trabalhada com intensidade dramática através

da saturação e do contraste, impondo um ritmo de velocidade e tensão. Ao mesmo tempo dialoga com elementos específicos

 da visualidade moderna brasileira, em especial com os objetos cinéticos de Palatnik, os bichos de Lygia

Clark, os fargalhantes de Carvão e com

a produção da Op Art internacional.

​

          Curioso notar também que, na sua pesquisa

cromática, o artista encontra suporte em

algumas pesquisas brasileiras sobre a cor,

entre as quais aquelas apresentadas no livro

"Da Cor à Cor Inexistente", de Israel Pedrosa,

obra que merece uma reavaliação histórica.

​

          Ao atuar como caleidoscópio das imagens

definidoras do concretismo e fragmen-

tando-as através do espelhamento e da

velocidade intrínsica do suporte virtual,

Robson produz uma instigante relação

entre os mistérios da sensibilidade e da

razão entendendo-as como uma dualidade

 essencial nos desafios propostos pela arte

 e pela ciência. Assim, o objeto revela a sua

 forma através da ótica do espectador. Ele se transforma a cada momento, numa sensísel dialética entre as coisas que estão

e as coisas que são. Visitar esses complexos e encantadores

objetos criados por Robson permite a todos nós agirmos como

agentes determinantes do processo e da ação artística, fazendo da experiência artística um ato de provocação e experimentação

 estética, fundamental para a ação e pertinência das pesquisas

 estéticas contemporâneas.

ENTRE DOIS MUNDOS
​

          A arte é uma instância da ação e do pensamento humano. 

Ela é uma vocação intrínsica da nossa espécie que cria métodos

de interpretação, transformação e criação de mundo baseados

na experimentação e no empreendorismo inventivo. Por isso, entendendo-a em seus aspectos mais amplos de impulso criativo

e agente dialético, a arte é atemporal e age sobre as conquistas

do saber humano, da ciência e da tecnologia, retratando, refletindo

e transformando as verdades do mundo.

​

          O mundo moderno, a partir da revolução industrial, baseava-se na democratização dos bens de consumo. Os anseios por uma sociedade mais justa, de caráter utópico

e socialista, baseada no socialismo

científico, justificam os movimentos de

origem construtiva da mesma maneira

que a revelação da psicanálise amplia

o conhecimento humano e permite

a valorização dos movimentos surrealistas.

A arte reflete essa realidade do mundo;

esses mundos que coabitam o mesmo

tempo e estabelecem uma curiosa

e instigante equação com o espaço no qual

atuam e interferem.

​

          No mundo cotemporâneo, é inegável

o impacto provocado pela cibernética.

A sociedade pós industrial rege-se pela

troca, pela comunicação imediata, pela rede

que a todos conecta, criando assim uma

estética e uma ética específica e peculiar.

Robson Macedo trabalha nessa fresta,

nessa estratégia de criação de pontes entre o real e o virtual, entre

a cor pigmento e a cor luz. Ao mesmo tempo em que seus trabalhos incorporam uma determinada tradição do objeto cromático, baseando-se em pesquisas e propostas definidas por expoentes da ciência e da filosofia, como Newton e Goethe, o artista direciona a sua ação para o embate cromático e virtual das telas de um computador.

​

          O próprio título de sua exposição"TILT" exemplifica a presença do mundo virtual na nossa vida cotidiana; a palavra de origem inglesa (inclinar) designava o travamento das máquinas de pinball

e depois foi apropriada pelos videogames. Na computação passou

a ser um erro de execução de uma linha de programa, sinônimo

de pane. Hoje a Tilt Art ou Glitch Art (do alemão, escorregadio)

define imagens geradas por computador através de programas específicos que buscam erros na sua formação.

​

Marcus de Lontra Costa

São Paulo, agosto de 2013

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