ROBSON MACEDO
@robson.macedo.art
Então podemos constatar que tudo o que vemos depende das condições de como essas coisas estão sendo apresentadas pra nós pelo mundo físico e não pelo que elas são.
Parte da psicologia analítica de Carl Jung fala da consciência das sombras, onde se compreende como sombra tudo aquilo que fica no inconsciente, desconhecido, reprimido, negado, no aspecto pessoal, social, científico, tecnológico e cultural. “Confrontar uma pessoa
com a sua sombra é mostrar a ela sua própria luz.” Para Jung tudo
tem sombra, mesmo que não receba luz. Compreender a dinâmica
das sombras nos ajuda a compreender que o conhecimento
se baseia no erro, pois as certezas surgem das dúvidas.
“…a sombra exerce também um outro
papel, possui um aspecto positivo,
uma vez que é responsável pela
espontaneidade, pela criatividade,
pelo insight e pela emoção profunda,
características necessárias ao pleno
desenvolvimento humano.”
A luz é limitada, a sombra não.
E ela não pode ser eliminada. Como
descrito sobre as sombras, aqui
a obra também precisa ser conhecida
e refletida atravésda trajetória de
vida e da visão do outro. Assim,
espelhando o conceito Junguiano nos
objetos apresentados, mesmo
naqueles que não possuem luz,
chegaremos nas sombras e os seus
reflexos, ou seja o pensamento
sobre elas e o que as causa.
Na verdade, é isso o que realmente
nos interessa, pois só se pode obter
um resultado satisfatório do que é requerido pelo objeto quando
ele é compreendido como portador de significado e quando
o receptor da mensagem capta o que é dito. Não importa se
a coisa é plástico, madeira, acrílico ou outro material, no objeto
há mudança de sentido da coisa. Tudo na vida é assim.
O importante é como você vê o mundo e não como ele é.
Há sombras em cada objeto e em cada um de nós.
O ser humano possui um campo de visão inserido em um espectro luminoso. Logo além dele há raios ultravioletas de um lado e infravermelhos de outro. Estes, invisíveis pra nós mas não para as abelhas. Nossos olhos demoram para se acomodar à luminosidade do espaço ao redor devido aos ajustes dos sensores de luminosidade do fundo das nossas retinas, os bastonetes. Neles são registrados o claro e o escuro. Os sensores que definem as cores são os cones, mas se não houver luz bastante eles são minimamente acionados. Num quarto escuro, com luminosidade suficiente para sabermos onde estamos, tudo ao redor vai parecer estar em preto e branco.
Sem luz, nada vemos. Com muita
luz, também não. Diante de um farol
ficamos cegos. Para enxergarmos algo
bem se faz necessária a presença de
uma fonte de luz equalizada aos nossos
sensores. Contudo, não nos damos conta
de que se não houver um objeto que
esteja dentro do campo dessa luz, que
a receba e a reflita, também não vemos
nada. No espaço sideral, a luz de uma
estrela só é notada quando um corpo
celeste está impedindo a continuidade
desses raios. Caso contrário, para um
cosmonauta por exemplo, tudo seria
escuridão. Apesar da presença
constante da luz.
Para a física, tudo tem sombra,
desde que receba luz. Pelo menos
a sombra própria, que é a sombra da
parte do objeto fora dos raios de luz.
Ainda há outro tipo de sombra,
a sombra projetada. Só que para esta, necessitamos de um segundo
objeto. como uma parede. E quanto mais forte a luz, mais escura
e definida é a sombra.
Sabemos que cor é luz porque cor é a característica de um objeto em refletir determinada parte do espectro luminoso. Entretanto, essa mesma cor pode ser notada de diversas maneiras de acordo com o olhar de cada um e da quantidade de luz que estiver sendo refletida. Isso é o que determina o tom da luz, que pode ser escuro, quase preto com pouca luminosidade ou tão claro que tudo fica quase branco, quando chamamos de luz estourada
Robson Macedo
Rio de Janeiro, março de 2022
Nunca a globalização gerou presenças físícas tão
imóveis e presenças virtuais tão compartilhadas.
E o bonequinho solto no ar? Talvez
seja um suicida que, se se deixar
intimidar pela atual complexidade
levará toda uma multidão de ovelhas
a se esborracharem lá embaixo.
Mas ele também pode representar
o espírito humano "livre, leve e solto"
(como se dizia enquanto prevíamos
a "Era de Aquarius") que, se souber
aproveitar as oportunidades geradas
por nosso drama atual, nos apontará
um futuro lúcido, ecológico e justo.
Obrigado por mais esta inspiradora contribuição
para a Galeria Transparente, Robson Macedo.
O VIRTUAL ENTRA EM CAMPO
Uma obra sobre os dilemas da mobilidade
num mundo imobilizado pelo Coronavírus?
Quanto mais nossa materialidade
se configura como um risco à saúde
pública, mais "a vida" se desloca para
o mundo virtual.
No real, nosso corpo se retrai,
as fronteiras dos países se fecham,
o rosto some atrás da máscara;
no virtual, só precisamos das pontas
de dois dedos para mergulhar no
Mapa Mundi.
Imensos prédios de escritórios
totalmente vazios, aviões que decolam
apenas para aliviar a pressão dos pneus,
as praias desertas de Mallorca em pleno verão europeu.
Sai de cena um planeta e entra em cena outro, digitalizado.
Os mapas do Google não eram apenas um registro do mundo, eram um substituto sentado no banco de reservas esperando para entrar
em campo.
Frederico Dalton de Moraes
Rio de Janeiro, agosto de 2020
10 CONTEMPORÂNEO
Os objetos de Robson Macedo, espertam de
imediato, curiosidade e encantamento. Pequenas
engenhocas, elas são ao mesmo tempo sofisticadas
e simples, aproximando arte popular e tecnologia
contemporânea. Essas pequenas máquinas do
artista brincam com o nosso olhar e provocam
o pensamento; vibram pelo intenso cromatismo
e nos fazem refletir sobre as instigantes relações
entre os objetos inanimados e a vida, nesse mundo
onde fronteiras e limites são constantemente
questionados.
O ineditismo dos objetos não recusa
a tradição. Eles se comunicam com a Op arte
internacional e com os objetos cinéticos de
Palatnik, os bichos de Lygia Clark e os farfalhantes
de Carvão. Conforme escrevi anteriormente:
Marcus de Lontra Costa
São Paulo, junho de 2018
"Ao atuar como caleidoscópio das imagens
definidoras do concretismo e fragmentando-as
através do espelhamento e da velocidade
intrínseca do suporte virtual, Robson produz uma
instigante relação entre os mistérios da
sensibilidade e da razão entendendo-as como
uma dualidade essencial nos desafios propostos
pela arte e pela ciência. Assim, o objeto revela
a sua forma através da ótica do espectador.
Ele se transforma a cada momento, numa
sensível dialética entre as coisas que estão
e as coisas que são.”.
Assim origina-se a nova série de trabalhos de Robson Macedo.
A partir do "erro" inicial o artista constrói artefatos que atuam
na margem entre o objeto pictórico e o objeto tridimensional, sendo construído através de técnicas mistas de pintura, colagens de impressos, tecidos e espelhos sobre um suporte de madeira confeccio-
nado de forma a enfatizar um tilt na estrutura da história da pintura.
A visualidade contemporânea se faz presente numa espécie de ambiguidade da cor trabalhada com intensidade dramática através
da saturação e do contraste, impondo um ritmo de velocidade e tensão. Ao mesmo tempo dialoga com elementos específicos
da visualidade moderna brasileira, em especial com os objetos cinéticos de Palatnik, os bichos de Lygia
Clark, os fargalhantes de Carvão e com
a produção da Op Art internacional.
Curioso notar também que, na sua pesquisa
cromática, o artista encontra suporte em
algumas pesquisas brasileiras sobre a cor,
entre as quais aquelas apresentadas no livro
"Da Cor à Cor Inexistente", de Israel Pedrosa,
obra que merece uma reavaliação histórica.
Ao atuar como caleidoscópio das imagens
definidoras do concretismo e fragmen-
tando-as através do espelhamento e da
velocidade intrínsica do suporte virtual,
Robson produz uma instigante relação
entre os mistérios da sensibilidade e da
razão entendendo-as como uma dualidade
essencial nos desafios propostos pela arte
e pela ciência. Assim, o objeto revela a sua
forma através da ótica do espectador. Ele se transforma a cada momento, numa sensísel dialética entre as coisas que estão
e as coisas que são. Visitar esses complexos e encantadores
objetos criados por Robson permite a todos nós agirmos como
agentes determinantes do processo e da ação artística, fazendo da experiência artística um ato de provocação e experimentação
estética, fundamental para a ação e pertinência das pesquisas
estéticas contemporâneas.
ENTRE DOIS MUNDOS
A arte é uma instância da ação e do pensamento humano.
Ela é uma vocação intrínsica da nossa espécie que cria métodos
de interpretação, transformação e criação de mundo baseados
na experimentação e no empreendorismo inventivo. Por isso, entendendo-a em seus aspectos mais amplos de impulso criativo
e agente dialético, a arte é atemporal e age sobre as conquistas
do saber humano, da ciência e da tecnologia, retratando, refletindo
e transformando as verdades do mundo.
O mundo moderno, a partir da revolução industrial, baseava-se na democratização dos bens de consumo. Os anseios por uma sociedade mais justa, de caráter utópico
e socialista, baseada no socialismo
científico, justificam os movimentos de
origem construtiva da mesma maneira
que a revelação da psicanálise amplia
o conhecimento humano e permite
a valorização dos movimentos surrealistas.
A arte reflete essa realidade do mundo;
esses mundos que coabitam o mesmo
tempo e estabelecem uma curiosa
e instigante equação com o espaço no qual
atuam e interferem.
No mundo cotemporâneo, é inegável
o impacto provocado pela cibernética.
A sociedade pós industrial rege-se pela
troca, pela comunicação imediata, pela rede
que a todos conecta, criando assim uma
estética e uma ética específica e peculiar.
Robson Macedo trabalha nessa fresta,
nessa estratégia de criação de pontes entre o real e o virtual, entre
a cor pigmento e a cor luz. Ao mesmo tempo em que seus trabalhos incorporam uma determinada tradição do objeto cromático, baseando-se em pesquisas e propostas definidas por expoentes da ciência e da filosofia, como Newton e Goethe, o artista direciona a sua ação para o embate cromático e virtual das telas de um computador.
O próprio título de sua exposição"TILT" exemplifica a presença do mundo virtual na nossa vida cotidiana; a palavra de origem inglesa (inclinar) designava o travamento das máquinas de pinball
e depois foi apropriada pelos videogames. Na computação passou
a ser um erro de execução de uma linha de programa, sinônimo
de pane. Hoje a Tilt Art ou Glitch Art (do alemão, escorregadio)
define imagens geradas por computador através de programas específicos que buscam erros na sua formação.
Marcus de Lontra Costa
São Paulo, agosto de 2013